sábado, 9 de maio de 2009

Desejos sem reparação


Sedes tornam-se impronunciáveis; sentimentos, incomunicáveis; angústias, imperceptíveis. E a vida escorre pela calçada quente.


Estocam-se os traumas infantis no celeiro da alma; cobrem-se as dores adolescentes nos lençóis da mentira; engasgam-se os prantos juvenis na rouquidão do disfarce; calam-se as indignações adultas nas conversas da dissimulação.


Armazenem-se mágoas doces, tranqüilas. Chague-se a carne no amor. Desapareça a vergonha da lágrima. Não demore o coração a iluminar-se mesmo quando a decepção sufoca o horizonte.


Fustiguem-se as fadigas na vara da meditação. Sujeitem-se as falsas onipotências na coleira da humildade. Subjuguem-se as vaidades na cela da discrição. Decrete-se dependência no sussurro da oração.


Adensem-se os sonhos depois da noite esquecida. Abram-se as portas dos mundos etéreos. Agarre-se a longa cauda do cometa para chegar na estrela azul. Cavalgue-se o unicórnio para ser feliz.


Ricardo Gondim.

Um comentário:

  1. Que lindoooooo! Adorei principlamente a última parte!Como é fácil basear a felicidade em coisas etéreas e efêmeras... "Cavalgue-se o unicórnio para ser feliz." Felizes são os que encontram os unicórnios, e mais ainda aqueles que os sabem domar...

    Adoro seus posts apesar de cada vez mais raros neh!
    Bjus

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