quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A arte de ser feliz (Cecília Meireles)



Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um chalé.

Na porta do chalé brilhava
um grande ovo de louça azul.
Neste ovo costumava pousar
um pombo branco.

Ora, nos dias límpidos,
quando o céu ficava da mesma
cor do ovo de louça,
o pombo parecia pousado no ar.

Eu era criança,
achava essa ilusão maravilhosa e
sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela dava para um canal.

No canal oscilava um barco.
Um barco carregado de flores.
Para onde iam aquelas flores?
Quem as comprava?

Em que jarra… em que sala,
diante de quem brilhavam,
na sua breve experiência?
E que mãos as tinham criado?
E que pessoas iam sorrir de
alegres ao recebê-las?

Eu não era mais criança,
porém minha alma ficava
completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um terreiro,
onde uma vasta mangueira
alargava sua copa redonda.

À sombra da árvore, numa esteira,
passava quase o dia todo sentada
uma mulher, cercada de crianças.
E contava histórias.

Eu não podia ouvir, da altura da janela,
e mesmo que a ouvisse, não entenderia,
porque isso foi muito longe,
num idioma difícil.

Mas as crianças tinham tal expressão
no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que na minha janela havia um
pequeno jardim seco.

Era um tempo de estiagem,
de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre
homem com um balde e em silêncio,
ia atirando com a mão umas gotas
de água sobre as plantas.

Não era uma rega:
era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas,
para o homem, para as gotas de
água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava
completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas
coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas
e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Dos anjos...



Acredito nos sonhos, nos amores, nas utopias. Acredito num amanhã possível, num futuro que pode ser hoje, que pode ser para todos e qualquer um de nós. Se assim não fosse, se minha crença não existisse, não teria força de escrever, de respirar, de viver.
Na minha vida (não sei se por coincidência, sorte, ou benesse de Deus) as coisas acontecem, as pessoas aparecem. É certo que algumas se vão, umas deixam saudades e outras não, mas há certas pessoas que funcionam como anjos da guarda, cuidam da gente com tanto amor que parece que somos pedacinhos dela.
E como retribuir toda a atenção, dedicação e amor que nos é presenteada? Não consigo imaginar como, nada que fizesse na vida poderia retribuir. De qualquer forma, duvido que esses anjos gostariam de receber algo em troca, não fazer por retribuição, fazem porque amam e isto basta.
Por isso acredito nos sonhos, nos amores, nas utopias, num amanhã possível, no futuro que pode ser hoje... Por causa desses anjos a vida passa a ter sentido, passa a valer à pena. Agradeço, pois hoje, por meus queridos anjos posso escrever, posso respirar, posso sonhar, posso, acima de tudo, viver e viver os sonhos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Tristezas...

Estou com aquela sensação de que tem algo que está dentro de mim e quer sair, as vezes ele chega na garganta e parece que tem alguma conexão da garganta com os olhos. Digo isto porque na mesma hora os olhos ficam úmidos... Mas eu resisto, e esse algo desce, vai para o coração. Faz com que eu sinta ele bater e ouço cada retumbar, não sei o que é... Mas existe algo em mim. Quando menos espero meu corpo explode. Logo quando escrevo/grito. e assim que termino, não terminou. Sobra um nada em mim, uma sensação estranha... Aquela sensação que tem algo dentro de mim e quer sair...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Sozinho


Suas frágeis e recolhidas asas
Estão simplesmente cansadas do puro céu azul
Você não precisa forçar o seu sorriso a ninguém
Não tem problema  sorrir... para si mesmo

Você não fala nada
Mas os seus olhos falam por si só
E é eu não sei direito o que

Tente enterrar, tudo bem
Não precisamos daquele céu azul
Se estivermos livres para nadar
Mesmo que você não fale nada sobre o passado
Estarei lá para te encontrar amanhã

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Das facilidades da vida...


Coisa difícil é quando fere a quem ama... Complicado ser imune ao próprio veneno... Todos os dias acabo por me ferir na simples tentativa de te ver, te ver crescer forte, linda, de ser independente.
Coisa difícil é amar alguém... Amar alguém é permitir que saia do próprio casulo, ver ser borboleta e bater as asas fortes e voar. È difícil ver quem amamos bater asas e voar, sozinhas.
Coisa difícil é amar a si próprio... Amar a si é amar por completo, mesmo a escuridão que se carrega. Amar a si é permitir-se voar mesmo temendo a própria escuridão, e assim poder sentir o vento no bater das asas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Busca

Todos queremos que a vida tenha algum tipo de significado. Parece que quanto mais velhos ficamos, mais o procuramos. E é mais difícil de encontrá-lo. E alguns de nós procuram no lugar errado. Mas se nossas vidas não tem significado, o que podemos deixar àqueles com quem nos importamos? O que eu deixarei? Não sei qual lado é qual, quem é quem. Não há mais ordem.

sábado, 29 de outubro de 2011

João de Barro


O meu desafio é andar sozinho
Esperar no tempo os nossos destinos
Não olhar pra trás, esperar a paz
O que me traz
A ausência do seu olhar
Traz nas asas um novo dia
Me ensina a caminhar
Mesmo eu sendo menino aprendi
Oh meu Deus me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de Barro eu te entendo agora
Por favor me ensine como guardar meu amor

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Raio


Cansei de dizer que algumas coisas são pra sempre, ou que seja eterno enquanto durar... Tenho a impressão que nossa amizade não será eterna, por que eterno é pouco pra medir tudo aquilo que sinto por você. Nossa amizade vai pra além do eterno, ultrapassa o nosso limitado conhecimento humano.
Não sou muito bom em escrever coisas, mas queria demonstrar aqui um pouquinho daquilo que me convoca a você, que nos faz ser quem somos, amigos, que não é pra sempre, porque pra sempre é pouco tempo pra nós.
Te amo.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011


Há coisa que temos medo de partilhar, não por vergonha ou timidez, mas por nudez. 
Coisas que nos despem nos fazem igualmente temer. Mas num quarto escuro, despido, 
com aquela que aquece nossos corpos nossas certezas se perdem e partilhamos o que 
temo de melhor, a vida. 
Certamente tememos partilhar, afinal de contas nos ensinaram a temer viver. Pois que 
aceitemos o desafio de partilhar a vida, de sugar todo seu tutano aumentando, assim, 
nosso poder de vida

sábado, 15 de outubro de 2011

Um help plis...

Pois se o medo de ser traído ou do amor acabar me impedir de amar é porque nunca soube o que o amor significa.

Amar não é viver para outro, mas viver com o outro e a confiança nasce do compartilhar a vida com quem se ama. Confiança não é coisa que se tenha, ou que se dê, é resultado do compartilhar a vida.

Sem deixar vulgar qualquer uma dessas duas palavras, arrisque-se a amar e confiar. Ou seja, arrisque-se a viver com o outro, a experimentar, ser e criar o mundo com o outro.

Espero que essa receitinha o ajude.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Rabisco

Fui sendo desenhado. A lápis para poder apagar e fazer de novo. Me faço e me refaço, invento e reinvento muitas formas. Nunca achei um desenho que me agradasse totalmente, nem consegui acabar um sequer completamente. E permaneço só, com meus rabiscos, que nunca chegarão a ser pintura, mas com esperança de cor...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Dança e traços de chuva




Sei que existe algo em mim
Que aos poucos me consome e me mata
Mesmo assim sou teimoso
Insisto em renascer

Sei que existe algo em mim
Contra o qual tenho que lutar constantemente
Nem sempre venço a luta
Mas não desisto da trincheira

Talvez a solução seja admitir meu fracasso
Desistir de minha vitória
Me deixar morrer
E tornar-me sombra

Nesta vida renasci água
Dessas que escorrem pelo rosto
E por mais que meu corpo se torne muitos
Não mais serei seco

Espero que tenha uma nova chance
E mesmo que me perca
Posso sempre renascer
Lembrando tempos de água

sábado, 24 de setembro de 2011

Sobre o amor


“Que eu não veja obstáculos na união de corações sinceros…
O amor não se turva em águas turvas,
nem se curva ante a chuva…
Não…
É uma luz constante que a tempestade não altera…
É a estrela de toda a mão errante…
de brilho claro…
embora sem matéria…
Não é joguete do tempo,
embora a carne sofra o peso da sua foice…
Se isso for falso e provado também,
Eu não escrevi…
e nunca se amou ninguém.”

O homenzinho e seu deus


A cidade foi atacada por um deus enorme e descalço
que ninguém podia vencer.
Tombaram exércitos e quebraram-se espadas,
morreram centenas,
e nada o fazia parar.
Foi quando um homenzinho inofensivo baixou sua lança e disse à multidão
que venceria o deus sem matá-lo; iria derrubá-lo sem ferir.
O deus riu um riso despreocupado de deus e com um golpe tremendo do braço fez o homem voar;
esmagou o homem com os pés e triturou-o entre as coxas,
despedaçou-o com os dentes e banhou-o em sangue e urina;
cuspiu, xingou e provocou.
Quando o homenzinho mal se podia pôr em pé
o gigante deu-lhe para segurar sua própria espada divina
e ofereceu de peito aberto seu divino coração,
mas o homem abaixou a espada e aquietou.
“Covarde”, disse o deus, e atravessou o homem despedaçado
com a lança que o próprio homem tinha deixado para trás.
Ferido de morte, o homenzinho entoou baixinho uma canção blasfema,
“venha o que vier, amar-te-ei pela eternidade”.
O deus inclinou-se para ouvir e o homem sussurrou-lhe ao ouvido, “sou seu filho”, e morreu.

[Paulo Brabo]

Mosaico


Encontramos pessoas de todas as cores e estilos. Muita gente passa pela nossa vida e nem notamos. Mas tem algumas que chegam e deixam uma marca, não se sabe porque, mas ficam guardadas pra sempre, mesmo que estejam longe.

Algumas pessoas agente gosta tanto que vira pedacinho da gente... Sabe como é né?!

E nem tem como fugir... agora mais que amizade, se torna parte de uma família ou um corpo, sei lá, que é pra sempre....

Pra sempre um.

sábado, 17 de setembro de 2011

Celebração da voz humana [2]




Os índios shuar, chamados de jíbaros, cortam a cabeça do vencido. Cortam e reduzem, até que caiba, encolhida, na mão do vencedor, para que o vencido não ressuscite. Mas o vencido não está totalmente vencido até que fechem a sua boca. Por isso os índios costuram seus lábios com uma libra que não apodrece jamais.

Celebração da voz humana



Tinham as mãos amarradas, ou algemadas, e ainda assim os dedos dançavam, voavam, desenhavam palavras. Os presos estavam encapuzados; mas inclinando-se conseguiam ver alguma coisa, alguma coisinha, por baixo. E embora fosse proibido falar, eles conversavam com as mãos.

Pinio Ungerfeld me ensinou o alfabeto dos dedos, que aprendeu na prisão sem professor:

— Alguns tinham caligrafia ruim — me disse —. Outros tinham letra de artista.

A ditadura uruguaia queria que cada um fosse apenas um, que cada um fosse ninguém: nas cadeias e quartéis, e no país inteiro, a comunicação era delito.

Alguns presos passaram mais de dez anos enterrados em calabouços solitários do tamanho de um ataúde, sem escutar outras vozes além do ruído das grades ou dos passos das botas pelos corredores. Fernández Huidobro e Maurício Rosencof, condenados a essa solidão, salvaram-se porque conseguiram conversar, com batidinhas na parede. Assim contavam sonhos e lembranças, amores e desamores; discutiam, se abraçavam, brigavam; compartilhavam certezas e belezas e também dúvidas e culpas e perguntas que não têm resposta.

Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada.


Eduardo Galeano - O livro dos Abraços

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Me ajuda a olhar


"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.

Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!"


(Eduardo Galeano - extraído do Livro dos abraços)

Me ensina a te amar



O que eu fiz para você me amar tanto assim. Quem eu sou pra que te lembres de mim. Teu amor em todo tempo é fiel, mesmo que todo tempo eu não mereça. Me perdoa quando você falou e eu não ouvi, me perdoa, quando você me tocou e eu não senti, como pude não sentir. Me ensina te amar. Me ensina mostrar quanto eu te amo. Pra sempre vou te amar.

Tenho tão pouco pra te oferecer, mas tudo o que eu tenho é teu. Toda minha vida, num piscar de olhos, e uma canção pra dizer: Me ensina te amar. Me ensina mostrar quanto eu te amo. Pra sempre vou te amar...


composição: Filhos do Homem

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Acordo



Eu aceitei a escuridão dela.
Não, foi tudo dela que o fim trouxe a tona.
É claro, eu aceitei para sobreviver.

sábado, 9 de julho de 2011

Sozinhos



Não sei o que minha alma busca
Sei que estou em constante procura
Talvez seja só uma fase
Talvez amanhã tudo isso acabe

Anseio por uma força 
Que me puxe pelo umbigo
Que me queira sem que eu queira
E que quando me der conta
Eu já esteja imerso

Anseio por algo que me tira a angústia
Preciso me sentir parte de algo
Pare que não me sinta o pior de todos
Pare que não me sinta como agora
Sozinho

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Now, I swear...


"Por isso ninguém aprende pela metade, todo e qualquer coração é sempre inteiro. Tudo o que se aprende é acoplamento de corações. Aprender é sempre um fazer do coração de cor e salteado, memória e passo. Não é um faz de conta. O encontro de corações reverbera, e reverberar é uma dessas palavras que se aprende, que se acha bonita, sabe-se lá porque. E espera-se a melhor oportunidade para utiliza-la. E agora é a hora. Nem antes nem depois." - 

Professor Fabio Hebert, para minha turma!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um treino para a vida







Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta.Nos perguntamos: "Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível?" Na verdade, quem é você para não ser tudo isso?... Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você.E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.


À medida que nos libertamos dos nossos medos, nossa presença automaticamente liberta os outros.




Nelson Mandela

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Devaneios sobre o Tempo


O Tempo parece atingir a todos.
Muitos sofrem com e pelo Tempo.
O Tempo que passa definha os corpos.
O Tempo que traz sabedoria  e que toma o conhecimento para si.
Mas tudo que se fala sobre ele, o Tempo, é sua passagem.
É um Tempo que afeta.
É um Tempo enquanto criador de possibilidade de afetação.
Se o Tempo é criador e afeta, então ele não é só passagem.
Tempo então, torna-se também, intensidade.
É a intensidade do Tempo que faz o presente se dobrar para o futuro.
O Tempo é assim pensado em sua intervenção no presente.
O Tempo pode ser passagem.
Mas o Tempo também é Intensidade.

sábado, 7 de maio de 2011

Te não ter



Não, não quero mais te ter.
Tenho medo que no momento que te  tenha...
Te perca... Pra Sempre

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ser




Um passarinho voou num momento
Percebi que aquilo seria o que ele era
E que tudo que espero na vida
É ser...

terça-feira, 26 de abril de 2011

INFORMAÇÃO, POR FAVOR


Quando eu era criança, bem novinho, meu pai comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança.

        Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na cômoda da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém.

        Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era "Uma informação, por favor" e não havia nada que ela não soubesse. "Uma informação, por favor" poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa.

        Minha primeira experiência pessoal com esse gênio-na-garrafa veio num dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramentas quando bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível, mas não havia motivo para chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia.

        Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido ate que pensei: O telefone! Rapidamente fui até o porão, peguei uma pequena escada que coloquei em frente a cômoda da sala. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido. Alguém atendeu e eu disse:

        - Uma informação, por favor.

        Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido:

        - Informações.

        - Eu machuquei meu dedo... - disse, e as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.

        - A sua mãe não está em casa? - ela perguntou.
       
        - Não tem ninguém aqui... - eu soluçava.

        - Está sangrando?
       
        - Não. - respondi - Eu machuquei o dedo com o martelo, mas tá doendo...

        - Você consegue abrir o congelador? - ela perguntou.

        Eu respondi que sim.
       
        - Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo. - disse a voz.

        Depois daquele dia, eu ligava para "Uma informação, por favor" por qualquer motivo. Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava a Philadelphia. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas. Então, um dia, Petey, meu canário, morreu. Eu liguei para "Uma informação, por favor" e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável. Eu perguntava:

        - Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola?

        Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente:

        - Paul, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também...

        De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor. No outro dia, lá estava eu de novo.

        - Informações. - disse a voz já tão familiar.

        - Você sabe como se escreve "exceção"?

        Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao norte do Pacífico. Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para Boston. Eu sentia muita falta da minha amiga. "Uma informação, por favor" pertencia aquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava na nova cômoda na nova sala. Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Freqüentemente, em momentos de dúvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo.

        Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um molequinho. Alguns anos depois, quando estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala em Seattle. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos.

        Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o numero da operadora daquela minha cidade natal e pedi:

        - Uma informação, por favor.

        Como num milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo:

        - Informações.

        Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando:
       
        - Você sabe como se escreve "exceção"?

        Houve uma longa pausa.

        Então, veio uma resposta suave:

        - Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paul.

        Eu ri:

        - Então, é você mesma!

        Eu disse:

        - Você não imagina como era importante para mim naquele tempo.

        - Eu imagino. - ela disse - E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você ligasse.

        Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontrar a minha irmã.

        - É claro! - ela respondeu - Venha até aqui e chame pela Sally.

        Três meses depois eu fui a Seattle visitar minha irmã. Quando liguei, uma voz diferente respondeu:

        - Informações.

        Eu pedi para chamar a Sally.

        - Você é amigo dela? - a voz perguntou.

        - Sou, um velho amigo. O meu nome é Paul.

        - Eu sinto muito, mas a Sally estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há cinco semanas.

        Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou:

        - Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paul?

        - Sim.

        - A Sally deixou uma mensagem para você.

        - Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler pra você.

        A mensagem dizia:

        "Diga a ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender."

        Eu agradeci e desliguei. Eu entendi...


(Autor desconhecido)
extraído de: http://www.sotextos.com/informacao_por_favor.htm

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Manhã

Acordo e abro a janela,
O cheiro da manhã invade o quarto,
Penso quantos cheiros ainda me passarão.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um drama por dia...

Creio que todos acompanharam o drama sofrido na escola do Rio de Janeiro, quando um ex-estudante, com um pretexto de dar uma palestra, entrou na escola e  atirou deliberadamente no tórax e cabeça de diversos estudantes. Muitos saíram feridos, mais de dez chegaram a óbito.

Pois bem, minha fala não é só como um profissional em psicologia, mas também como estudante, e além de tudo, como cristão. Poderia aqui usar muitos termos da própria psicologia para explicar o que se passava na mente desse sujeito, assim como muitos profissionais o fizeram na TV. Psiquiatras, profissionais de saúde e segurança enchem e fazem fama na possibilidade do menino atirador ter estrutura psicótica esquizofrênica ou psicopatia, enfim. Fico pensando o quanto, nos tempos atuais, culpabilizamos o sujeito pelo seus atos e esquecemos que aquele menino tem uma história, história essa que envolve a mim e a você.

-Mas Rafa você está dizendo que ele não é culpado pelo que fez? Sim, estou dizendo que ele não é culpado. 

-Rafa, você é estúpido, não pensa, é um anti-cristão, esse cara deve pagar pelo que fez.   

Concordo plenamente que ele tenha que enfrentar as consequências do seu ato. Quando digo que ele não é culpado ão estou o eximindo de sua responsabilidade pelo que fez, até porque ele já morreu. Gostaria de aqui, brevemente, explicar a diferença de culpa e responsabilidade. Quando fazemos uma escolha qualquer não somos exclusivamente nós que a fazemos. A nossa história de vida, relações que estabelecemos, fatores ambientais, como nos relacionamos com o objeto de nossa escolha, nossa "vontade" e muitos outros ditam, de certa forma, o que escolheremos. Logo, não é o eu que escolhe, assim não se pode culpabilizar uma pessoa que não tenha, deliberadamente, escolhido uma atitude à outra. Porém, apesar da escolha não ser feita livremente por um eu, apesar dela ser influenciada por diversos fatores, essa escolha é feita em cada um de nós. A escolha feita em nós não nos torna culpados (pois não foi uma escolha deliberada), mas sim responsáveis pela atitude que tomamos, tendo que arcar com as consequências dela. Sem dizer que a culpabilização engessa, o individuo é culpado e ponto. A responsabilização mobiliza a ação, se é responsável e agora? o que será feito com isso?

Uma outra coisa que gostaria de questionar é como se constrói um sujeito assim. Construção sim, nossa sociedade, capitalista, individualista, produz os indivíduos que vivem nela. O modo que vivemos, infelizmente constrói uma sociedade que se preocupa mais com o próprio umbigo do que com as questões sociais, que o sofrimento do próximo. 

E agora chego no ponto que queria. A igreja não é separada no mundo, a igreja não atua no céu ou no paraíso, a IGREJA é de Jesus na TERRA, no céu não precisa ter atitudes altruístas, na terra precisa. A igreja é responsável pela sociedade em que estamos, pois a igreja que fazemos hoje é construção deste mundo em que estamos, mas para além disso: NOSSA IGREJA É RESPONSÁVEL PELA SOCIEDADE QUE CONSTRUÍMOS E HABITAMOS.

Agora vem a minha pergunta. Que atitude estamos tendo, enquanto igreja, pra produzir indivíduos assim? Que postura estamos tomando que gera um individuo que vê o próximo impuro a ponto de matá-los? Será que com nossos egoísmos na busca de milagres e crescimento espiritual matamos o próximo? Matamos o próximo quando não o olhamos, Mario Quintana fala assim: "O que mata o jardim/ É esse olhar vazio,/ De quem por ele/ passar indiferente.

Por sim gostaria de perguntar se é só eu que quero escolhas diferentes, sociedade diferente, pessoas diferentes e, aceitação do diferente. Que possamos ver o outro como possibilidade de um mundo novo a ser descoberto, acredito que assim possamos construir um mundo diferente.

Obrigado a todos que tiveram a paciência de ter lido minha angústia.

Um abraço afetuoso,   

 Rafael Dias Valencio 

sexta-feira, 25 de março de 2011

Inscrição para um portão de cemitério



Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando nasce - uma estrela,
Quando morre - Uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim! 

Mario Quintana

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Minha Favorita

Eu estava sempre a te observar.

Você estava sempre brilhando.
E isso me deixava feliz.
È por isso que seguia você.

Eu queria que você falasse comigo.
Mas não importava o quanto corria.
Não conseguia te alcançar.

Eu sabia disso desde o começo,
Mas tudo que queria era falar com você.
E te ver sorrindo.

Eu não sei quando isso se tornou uma confusão.
Foi bom estar ao seu lado.
Passar o tempo juntos.

Não importava qual era o problema.
Depois que eu falasse com você,
Ele desaparecia.

Você é minha favorita,
Mas nunca poderei te alcançar.
Isso não importa.
Vou continuar a te observar,
Mesmo distante.

Então, por favor,
Não se preocupe comigo.
Vou tomar conta de mim por alguma forma.

Mas tenho um favor a te pedir.
Quero que você continue sorrindo.
Porque você é...
Minha favorita.

Agora, adeus...

sábado, 29 de janeiro de 2011

Ecos de Passado


Não podemos voltar ao passado.
Não importa o quanto tentemos.
Não importa o quão maravilhoso foi.
O passado não é nada além de passado.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011


Olhei pro Sol e quis também brilhar,
Olhei pra águia e tentei segui-la...