sábado, 17 de julho de 2010

Gauche


A vida tem seus rumos
Se perder em seu encontros
Suas trilhas obstinadas
Suas nuances incompreensíveis

Nos momentos de azar
Perdemos tudo: bom humor
A namorada, e até o bom vinho
E há quem diga que azar não exista

Nos momentos de sorte
Encontramos nosso grande amor
E no outro dia encontramos
Nosso outro grande amor

Os dias de sorte e azar se misturam
Porque a vida em seus rumos
Nos traz encontros e desencontros
Amores que vem e passam

Nas trilhas obstinadas da vida
Não se pode perder tempo
Nem dar chance ao nada
Deve-se aproveitar o instante

Beba o melhor vinho
Passe o melhor perfume
Ame o amor da sua vida
Mesmo que mude de amor depois

Mas seja feliz, pois a vida passa
E o grande azar da vida não é perder as coisas
Mas deixar passar as microfrações de felicidade
Aproveitar a vida é a sorte controlável que temos em nossas mãos

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Beleza que faz a vida irresistível

O belo se esconde no evidente. Imiscui-se por toda a parte. Ora claro, ora escuro, tinge a textura do cotidiano. Muitas vezes camuflado no óbvio, pega o coração de surpresa. Olhos displicentes correm o risco de não captar toda a formosura que permeia a vida.

Um coração desolado não vê o inefável porque basta um instante, um hiato, um risco no céu, para sumir o que pode encher a vida de viço. Sempre alguma lindeza esquecida espera ser descoberta no fundo do pântano, na escarpa da rocha, no rosto crispado da viúva, no riso frouxo do adolescente.Em cada alvorada renasce um anseio renovado pelo belo. O orvalho aguça o desejo de alimentar a alma com os diferentes matizes da mata. Quando o dia se alonga, temos fome; uma fome pelo eterno. E a noite traz a bruma leve do Espírito que faz do descanso o tempo dos sonhos.

De repente, sempre de repente, no dia-a-dia, está um anelo pela nuança da poesia; nuança que transfigura as letras em recado divino. O corpo pede melodia para deixar o coração estranhamente sereno; e da calma, vem a excitação que converte o lamento em vontade de pular de alegria. Existe, sim, uma beleza que torna a vida irresistível.

O belo está sempre por perto e tem poder. Fascinante, inspira o poeta. Trasforma o leigo em criador fecundo, incorpora contentamento no triste, sensibiliza o bruto,muda o apático em trovador, leva o tosco a bailar em ritmos imponderáveis e sensibiliza o cético para que perceba a eternidade na realidade crua.

O belo é divino.

Soli Deo Gloria



Texto de Ricardo Gondim

Disponível em http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=65&sg=0&id=2199