quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A arte de ser feliz (Cecília Meireles)



Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um chalé.

Na porta do chalé brilhava
um grande ovo de louça azul.
Neste ovo costumava pousar
um pombo branco.

Ora, nos dias límpidos,
quando o céu ficava da mesma
cor do ovo de louça,
o pombo parecia pousado no ar.

Eu era criança,
achava essa ilusão maravilhosa e
sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela dava para um canal.

No canal oscilava um barco.
Um barco carregado de flores.
Para onde iam aquelas flores?
Quem as comprava?

Em que jarra… em que sala,
diante de quem brilhavam,
na sua breve experiência?
E que mãos as tinham criado?
E que pessoas iam sorrir de
alegres ao recebê-las?

Eu não era mais criança,
porém minha alma ficava
completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um terreiro,
onde uma vasta mangueira
alargava sua copa redonda.

À sombra da árvore, numa esteira,
passava quase o dia todo sentada
uma mulher, cercada de crianças.
E contava histórias.

Eu não podia ouvir, da altura da janela,
e mesmo que a ouvisse, não entenderia,
porque isso foi muito longe,
num idioma difícil.

Mas as crianças tinham tal expressão
no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que na minha janela havia um
pequeno jardim seco.

Era um tempo de estiagem,
de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre
homem com um balde e em silêncio,
ia atirando com a mão umas gotas
de água sobre as plantas.

Não era uma rega:
era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas,
para o homem, para as gotas de
água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava
completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas
coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas
e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Dos anjos...



Acredito nos sonhos, nos amores, nas utopias. Acredito num amanhã possível, num futuro que pode ser hoje, que pode ser para todos e qualquer um de nós. Se assim não fosse, se minha crença não existisse, não teria força de escrever, de respirar, de viver.
Na minha vida (não sei se por coincidência, sorte, ou benesse de Deus) as coisas acontecem, as pessoas aparecem. É certo que algumas se vão, umas deixam saudades e outras não, mas há certas pessoas que funcionam como anjos da guarda, cuidam da gente com tanto amor que parece que somos pedacinhos dela.
E como retribuir toda a atenção, dedicação e amor que nos é presenteada? Não consigo imaginar como, nada que fizesse na vida poderia retribuir. De qualquer forma, duvido que esses anjos gostariam de receber algo em troca, não fazer por retribuição, fazem porque amam e isto basta.
Por isso acredito nos sonhos, nos amores, nas utopias, num amanhã possível, no futuro que pode ser hoje... Por causa desses anjos a vida passa a ter sentido, passa a valer à pena. Agradeço, pois hoje, por meus queridos anjos posso escrever, posso respirar, posso sonhar, posso, acima de tudo, viver e viver os sonhos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Tristezas...

Estou com aquela sensação de que tem algo que está dentro de mim e quer sair, as vezes ele chega na garganta e parece que tem alguma conexão da garganta com os olhos. Digo isto porque na mesma hora os olhos ficam úmidos... Mas eu resisto, e esse algo desce, vai para o coração. Faz com que eu sinta ele bater e ouço cada retumbar, não sei o que é... Mas existe algo em mim. Quando menos espero meu corpo explode. Logo quando escrevo/grito. e assim que termino, não terminou. Sobra um nada em mim, uma sensação estranha... Aquela sensação que tem algo dentro de mim e quer sair...