sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ser




Um passarinho voou num momento
Percebi que aquilo seria o que ele era
E que tudo que espero na vida
É ser...

terça-feira, 26 de abril de 2011

INFORMAÇÃO, POR FAVOR


Quando eu era criança, bem novinho, meu pai comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança.

        Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na cômoda da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém.

        Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era "Uma informação, por favor" e não havia nada que ela não soubesse. "Uma informação, por favor" poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa.

        Minha primeira experiência pessoal com esse gênio-na-garrafa veio num dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramentas quando bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível, mas não havia motivo para chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia.

        Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido ate que pensei: O telefone! Rapidamente fui até o porão, peguei uma pequena escada que coloquei em frente a cômoda da sala. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido. Alguém atendeu e eu disse:

        - Uma informação, por favor.

        Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido:

        - Informações.

        - Eu machuquei meu dedo... - disse, e as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.

        - A sua mãe não está em casa? - ela perguntou.
       
        - Não tem ninguém aqui... - eu soluçava.

        - Está sangrando?
       
        - Não. - respondi - Eu machuquei o dedo com o martelo, mas tá doendo...

        - Você consegue abrir o congelador? - ela perguntou.

        Eu respondi que sim.
       
        - Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo. - disse a voz.

        Depois daquele dia, eu ligava para "Uma informação, por favor" por qualquer motivo. Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava a Philadelphia. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas. Então, um dia, Petey, meu canário, morreu. Eu liguei para "Uma informação, por favor" e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável. Eu perguntava:

        - Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola?

        Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente:

        - Paul, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também...

        De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor. No outro dia, lá estava eu de novo.

        - Informações. - disse a voz já tão familiar.

        - Você sabe como se escreve "exceção"?

        Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao norte do Pacífico. Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para Boston. Eu sentia muita falta da minha amiga. "Uma informação, por favor" pertencia aquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava na nova cômoda na nova sala. Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Freqüentemente, em momentos de dúvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo.

        Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um molequinho. Alguns anos depois, quando estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala em Seattle. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos.

        Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o numero da operadora daquela minha cidade natal e pedi:

        - Uma informação, por favor.

        Como num milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo:

        - Informações.

        Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando:
       
        - Você sabe como se escreve "exceção"?

        Houve uma longa pausa.

        Então, veio uma resposta suave:

        - Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paul.

        Eu ri:

        - Então, é você mesma!

        Eu disse:

        - Você não imagina como era importante para mim naquele tempo.

        - Eu imagino. - ela disse - E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você ligasse.

        Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontrar a minha irmã.

        - É claro! - ela respondeu - Venha até aqui e chame pela Sally.

        Três meses depois eu fui a Seattle visitar minha irmã. Quando liguei, uma voz diferente respondeu:

        - Informações.

        Eu pedi para chamar a Sally.

        - Você é amigo dela? - a voz perguntou.

        - Sou, um velho amigo. O meu nome é Paul.

        - Eu sinto muito, mas a Sally estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há cinco semanas.

        Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou:

        - Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paul?

        - Sim.

        - A Sally deixou uma mensagem para você.

        - Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler pra você.

        A mensagem dizia:

        "Diga a ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender."

        Eu agradeci e desliguei. Eu entendi...


(Autor desconhecido)
extraído de: http://www.sotextos.com/informacao_por_favor.htm

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Manhã

Acordo e abro a janela,
O cheiro da manhã invade o quarto,
Penso quantos cheiros ainda me passarão.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um drama por dia...

Creio que todos acompanharam o drama sofrido na escola do Rio de Janeiro, quando um ex-estudante, com um pretexto de dar uma palestra, entrou na escola e  atirou deliberadamente no tórax e cabeça de diversos estudantes. Muitos saíram feridos, mais de dez chegaram a óbito.

Pois bem, minha fala não é só como um profissional em psicologia, mas também como estudante, e além de tudo, como cristão. Poderia aqui usar muitos termos da própria psicologia para explicar o que se passava na mente desse sujeito, assim como muitos profissionais o fizeram na TV. Psiquiatras, profissionais de saúde e segurança enchem e fazem fama na possibilidade do menino atirador ter estrutura psicótica esquizofrênica ou psicopatia, enfim. Fico pensando o quanto, nos tempos atuais, culpabilizamos o sujeito pelo seus atos e esquecemos que aquele menino tem uma história, história essa que envolve a mim e a você.

-Mas Rafa você está dizendo que ele não é culpado pelo que fez? Sim, estou dizendo que ele não é culpado. 

-Rafa, você é estúpido, não pensa, é um anti-cristão, esse cara deve pagar pelo que fez.   

Concordo plenamente que ele tenha que enfrentar as consequências do seu ato. Quando digo que ele não é culpado ão estou o eximindo de sua responsabilidade pelo que fez, até porque ele já morreu. Gostaria de aqui, brevemente, explicar a diferença de culpa e responsabilidade. Quando fazemos uma escolha qualquer não somos exclusivamente nós que a fazemos. A nossa história de vida, relações que estabelecemos, fatores ambientais, como nos relacionamos com o objeto de nossa escolha, nossa "vontade" e muitos outros ditam, de certa forma, o que escolheremos. Logo, não é o eu que escolhe, assim não se pode culpabilizar uma pessoa que não tenha, deliberadamente, escolhido uma atitude à outra. Porém, apesar da escolha não ser feita livremente por um eu, apesar dela ser influenciada por diversos fatores, essa escolha é feita em cada um de nós. A escolha feita em nós não nos torna culpados (pois não foi uma escolha deliberada), mas sim responsáveis pela atitude que tomamos, tendo que arcar com as consequências dela. Sem dizer que a culpabilização engessa, o individuo é culpado e ponto. A responsabilização mobiliza a ação, se é responsável e agora? o que será feito com isso?

Uma outra coisa que gostaria de questionar é como se constrói um sujeito assim. Construção sim, nossa sociedade, capitalista, individualista, produz os indivíduos que vivem nela. O modo que vivemos, infelizmente constrói uma sociedade que se preocupa mais com o próprio umbigo do que com as questões sociais, que o sofrimento do próximo. 

E agora chego no ponto que queria. A igreja não é separada no mundo, a igreja não atua no céu ou no paraíso, a IGREJA é de Jesus na TERRA, no céu não precisa ter atitudes altruístas, na terra precisa. A igreja é responsável pela sociedade em que estamos, pois a igreja que fazemos hoje é construção deste mundo em que estamos, mas para além disso: NOSSA IGREJA É RESPONSÁVEL PELA SOCIEDADE QUE CONSTRUÍMOS E HABITAMOS.

Agora vem a minha pergunta. Que atitude estamos tendo, enquanto igreja, pra produzir indivíduos assim? Que postura estamos tomando que gera um individuo que vê o próximo impuro a ponto de matá-los? Será que com nossos egoísmos na busca de milagres e crescimento espiritual matamos o próximo? Matamos o próximo quando não o olhamos, Mario Quintana fala assim: "O que mata o jardim/ É esse olhar vazio,/ De quem por ele/ passar indiferente.

Por sim gostaria de perguntar se é só eu que quero escolhas diferentes, sociedade diferente, pessoas diferentes e, aceitação do diferente. Que possamos ver o outro como possibilidade de um mundo novo a ser descoberto, acredito que assim possamos construir um mundo diferente.

Obrigado a todos que tiveram a paciência de ter lido minha angústia.

Um abraço afetuoso,   

 Rafael Dias Valencio