sábado, 25 de outubro de 2008

Meu querer...

Chega! Não quero mais! Não quero lembrar um sonho bom sem poder realizá-lo, seria como nadar e morrer na praia. Não quero viver o mundo dos sonhos irreais, onde a vida é amiga e companheira.Cujos amigos são perfeitos, não traem, pura hipocrisia, amigos traem as vezes.
Chega! Não quero mais! Não quero olhar nos olhos de quem sofre e dizer “vai ficar tudo bem”, mentira, nem sempre fica tudo bem. O sofrimento faz parte da vida, mas nós, ridículos cristãos-“acidentais” enganamo-nos, prometemos o mundo perfeito, onde não há dor nem sofrimento. Mas e agora? E a minha dor hoje? Prometemos cura a quem pode nunca se curar, riqueza a quem pode nunca se ascender socialmente, LEGALISMOS.
Chega! Não quero mais! Não quero sentar numa cadeira de sala de aula vendo um professor dar uma aula cem vezes já dada, de seu caderninho milhares de vezes lido, tão lido que já sabe de cor. Nada mais que saia de sua alma. E os alunos... pobres alunos, passam um por cima dos outros como uma manada fugindo de um leão, afinal de contas é cada um por si e Deus por todos. Gostaria de lembrá-los de pessoas que se sacrificaram em favor de um grupo, abriram mão de seus privilégios por algo maior, mesmo que sofressem por isso, como Jesus, Mahatma Gandhi e muitos outros.
Chega! Não quero mais! Não quero ir a igreja e ouvir aquele sermão sobre o pecado e o quanto ele é ruim. É como disse Davi “o meu pecado está sempre diante de mim”. As igrejas precisam dar mais Deus e menos pecado, menos legalismos, menos falta de perdão. Todas as vezes que leio as palavras de Jesus, na bíblia, vejo o quanto ele estava preocupado pelo fato das pessoas não amarem. A cada dia que passa observo as pessoas que se dizem seguidoras deste mestre se distanciarem desse amor. Pelo contrário, estão pregando separação e morte ao invés de amor e vida. A cada dia concordo mais com Jung: “... mais cedo ou mais tarde tudo se transforma no seu contrário”.

Chega! Não quero mais! Não quero abrir mão de mim, de meus desejos, de meus amores por ninguém, é hora de pensar em mim. A vida é repleta de escolha, e no decorrer de minha vida sempre optei por abrir mão de mim pelos outros, não dá mais. Preciso viver pra mim, não estou falando que serei individualista, mas também não serei mais autruísta. "Tá na minha vez".
Quero sim! Quero que as pessoas me entendam, entandam que sou fluxo e refluxo, luz e sombra. Que entendam que a vida seguiu seu rumo e vou seguir lutando em eterna contradição comigo mesmo. Sou isso, uma contradição. Quero trasnscender a mim mesmo e ir além do que o Rafael jamais foi nesse mundo de antíteses.
Nomine Tuo da Gloriam

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A força que me assalta.

Acredito que o amanhã continuará com semelhantes tempestades.
No vai e vem da vida tudo continuará se esvaindo em vaidades.
A lágrima continuará a vazar pelas valetas do desdém.
O uivo dolorido da criança que se desmancha em diarréias,continuará abafado pela imensidão da noite.
A muralha que isola o esfarrapado continuará sólida.
A estrela do general continuará polida.
O fadista continuará ébrio de melancolia.

Mas insisto em não desistir.
Não sei explicar a força que me assalta.
Sem noção, retomo à minha sina,minha vocação, mesmo com tanto sofrer.
A sandice de simplesmente resistir é meu vício.
Ressinto o preço de aceitar ser parceiro do padecer humano,mas não resisto ao aceno celeste.

Desisto do sucesso, da sagração humana.
Morro para a ambição de empunhar cetros.
Abandono a conquista dos sonhos.
Simplesmente sigo em assimilara mais singela de todas as façanhas: perseverar na Esperança.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim.

domingo, 12 de outubro de 2008

Projeto inacabado...

Cuidado, estou em obras.
Sou vala recortada,
rabisco de prancheta,
mal traçadas linhas,
alinhavos tortos.

Calma, continuo cru.
Sou um por fazer,
O forno não esquentou,
A cola não secou,
O dia não raiou.

Paciência, ainda não curei.
A cortina não desceu,
O gol não saiu,
A pipa não voou,
O "Rafael" não nasceu.


Escrito por Ricardo Gondin
Modificação de Rafael Valencio

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Os meus extremos

Minha vida é pêndulo. Oscilo entre o bem que desejo e o mal que rechaço. Sei que minhas sombras não são todas ruins e minhas luzes não são todas boas.

Minha vida é sístole e diástole, fluxo e refluxo. No vai-e-vem de minhas emoções choro e rio, fico e vou. Não receio mostrar covardia e hesito nas coragens.

Minha vida é dança na encosta do abismo. Prestes a despencar, no limite do perigo, corro o risco de tornar-me o fiasco do milênio. Mesmo assim, jogo e aposto atrevidamente. Mesmo sabendo que posso ferir-me, enfrento a corda bamba.

Minha vida é estrada esburacada. Nos solavancos das crateras que se abriram pelo caminho, tento aprumar-me. Não quero perder a direção. Vou por trilhas menos pavimentadas, mas vez por outra, cansado, prefiro cortar caminho.

Minha vida é simultaneidade de satisfação e fome. Os desejos cumpridos deixam sobra, um resíduo, de desprazer. Porém, por mais que as inadequações se mostrem onipresentes, celebro contente a minha sorte.

Minha vida é, ao mesmo tempo, vitrine e caverna. Convivo com plataformas e microfones. Falo para platéias. Sou fascinado por silêncios, por alcovas. Audaz com multidões e tímido com pessoas, opto por poucas palavras. Mas, dou a mão à palmatória, falo pelos cotovelos.

Minha vida é mescla de certeza e imprecisão. As dúvidas não me abalam, mas as certezas me confundem. Gosto de questionar e não tenho medo de ficar sem resposta. Os absolutos me incomodam, os dogmas me inquietam, as exatidões me deixam suspeitoso.

Minha vida é ameaça e bênção. Consciente dos ódios que já provoquei, vivo inseguro; sempre procurando redenção. Entusiasmado com a bênção que sou, alço o vôo da águia; sempre ousando novos desafios.

Minha vida é mistura de morbidez e sede de viver. Aguardo o apagar das luzes, reconheço a iminência do meu fim. Contudo, procuro desdobrar os minutos em “nano-frações” de felicidade.

Minha vida é preocupação despreocupada. Temo as contingências, mas o insólito me entusiasma . Repito aos quatro ventos que dores e alegrias entram na fabulosa receita desta existência, que o Criador projetou livre. Não há nada mais deslumbrante que a angústia, e nada mais surpreendente que a felicidade.

Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O que significa esperança?

Esses dias li um poema que falava de esperança e passei a me perguntar se a tinha. Fiquei surpreso quando descobri que não sei o que é ter esperança. Perguntei as pessoas próximas a mim mas elas não me deram um boa resposta. Uns disseram que esperança é esperar ou acreditar que um dia o sonho seria realizado ou que as coisas simplesmente se acertariam, que no final tudo daria certo. Mas passei a pensar se tudo isto que me foi dito não é apenas deixar para depois aquilo que era para ser feito agora.

Li essa definição de esperança:
Esperança só é esperança quando não se funda em certezas. Quando há bases seguras, "científicas", para as nossas projeções desejantes, temos otimismo. Esperança é quando nós esperamos apesar das nossas incertezas, apesar das atuais condições humanas e sociais que não nos dão garantia da possibilidade de realização dos nossos desejos. Alguém é otimista por causa de, enquanto que nós temos esperança apesar de. Por isso, Horkheimer disse que "a esperança de que o horror deste mundo não tenha a última palavra é com toda certeza um desejo não científico". (Hugo Assman e Jung Mo Sung em "Competência e sensibilidade solidária - educar para a esperança" - Editora Vozes, p.103.)

Mas ainda tenho a impressão de que ainda falta algo. A esperança não é exterior a nós, também não é aquilo que vamos nos sentar e esperar acontecer. Penso que esperança é a coragem, o ânimo de lutar porque vai valer a pena. Não porque vai dar certo, mas sim porque esperamos que aconteça e lutamos por isso.

Queria terminar este texo com mais uma citação:
"Depois da guerra, pensava eu, restavam apenas cinzas, destroços sem íntimo. Tudo pesando, definitivo e sem reparo. Hoje sei que não é verdade. Onde restou o homem sobreviveu semente, sonho a engravidar o tempo. Esse sonho se ocultou no mais inacessível de nós, lá onde a violência não podia golpear, lá onde a barbárie não tinha acesso. Em todo este tempo, a guerra guardou, inteiras, as suas vozes. Quando se lhes impôs o silêncio elas mudaram de mundo. No escuro permaneceram lunares. Estas estórias [que ele vai contar no livro] falam desse território onde vamos refazendo e vamos molhando de esperança o rosto da chuva, água abensonhada. Desse território onde todo homem é igual, assim: fingindo que está, sonhando que vai, inventando que volta". (Mia Couto na introdução de seu livro "Estórias Abensonhadas" Editorial Caminho - Lisboa - 2002).

Esse trecho mostra a esperança em Moçambique depois de uma guerra que devastou o país. Dessas ruínas eles obtiveram o que julgo ser esperança: o sonho, o esperar de um novo páis que fosse como a fênix, renascendo das cinzas, aliado à um arregaçar de mangas onde "vamos refazendo e vamos molhando de esperança o rosto da chuva".

Depois de muito pensar decobri algo sobre esperança, quem sabe agora posso tê-la de verdade, viver em intensidade, em totalidade.

SDG

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

domingo, 5 de outubro de 2008

Somos luz e sombra

Quantas vezes em nossas vidas nos defrontamos com nossas sombras, isso não é ruim ou maléfico, é necessário. Um amigo uma vez me disse que todos nós somos luz e sombra, nícleo e eletrosfera. Um encontro com nossa obscuridade nos faz crescer, encontrar o que na verdade somos, perceber que o mundo não é composto só pelos nossos umbigos, mas é dinâmico num processo que, para o ser humano, depende do outro para ser.
"A SOMBRA", dizia Graf Dürckheim, é apenas "uma luz encolhida, que não chega a se dar, a se difundir". Não é o ódio um grande amor recalcado? Odiar não é estar impedido ou se impedir de amar? Dizer a alguém que o detestamos, amá-lo ainda o bastante para odiá-lo, olhar de frente esse ódio, amar esse ódio e ver o gelo derreter... esse gelo esconde a água viva.
(Jean-Yves Leloup em "O absurdo e a graça" - Verus Editora. p.33.)
Disse Ricardo Gondim: "Viver não é para amadores". Depressão e riso, alegria e tristeza formam a história de cada um. Quem foge da tristeza acaba neurótico, em negação, à procura de um mundo ilusório. Por outro lado, quem não sabe rir termina inclemente, à caça de gente para povoar o seu purgatório.
"O tempo passa velozmente carregando tudo e todos. A pior angústia? Ver a areia da ampulheta, o pêndulo do relógio, a avisar que o calendário escasseia. Alguns não se dão conta que jogam a vida no lixo. Vaidades e megalomanias são ladras dissimuladas."
(Ricardo Gondim, Viver não é para amadores)
Devmos aproveitar cada instante, viver cada momento das nossas vidas. Lutar por bons momentos me parece um bom caminho. Eternizar cada instante parece um esconderijo onde mora o segredo da felicidade.

sábado, 4 de outubro de 2008

Um olhar na alma

Condenado a guilhotina, um homem, novo, escreve seus últimos momentos do dia, dia em que sua vida se encerra. O padre responsável por suas confissões lhe aplica seu habitual sermão. Mas o que está história pode nos dizer, o que nos fala enquanto pessoas?

"Não, por mais baixo que tenha caído, não sou um ímpio e Deus é testemunha que acredito nele. Mas o que foi que esse ancião me disse? nada sentido, nada que viesse do coração dele para tocar o meu, nada que passasse dele pra mim. Ao contrário, não sei o que de vago, inacentuado, aplicável a tudo e a todos; enfático onde deveria ter sido profundo, bana onde deveria ter sido simples; uma espécie de amor sentimental e de elegia teológica. Aqui e ali, uma citação latina em latim. Santo Agostinho, São Gregório, que sei eu? Depois, parecia estar recitando uma lição cem vezes já recitada, repassar um tema, obliterado na sua memória de tão conhecido. Nem um olhar no olho, nem um acento na voz, nem um gesto nas mãos."
"E como poderia ser diferente? Este padre é o capelão titular da prisão. Sua profissão é consolar e exortar, vive disso."
(O último dia de um condenado a morte, Victor Hugo)

Quando li essa obra prima de Victor Hugo muito me chamou atenção esse trecho em especial. Me faz pensar em nós enquanto apredizes da vida num mundo hostilizado pelo fast food, pelos apelos individualistas que nos fazem esquecer que as pessoas ainda não são máquinas manipulatórias. Perdemos de vista seu interior, sua individualidade, sua alma.

Há alguns dias que estava conversando com um amigo que estava adimirado com o fato de seu vizinho ter-lhe desejado um bom dia. Coisas simples que a correria do dia-a-dia mandou embora. Nem um olhar no olho, nem um gesto com as mãos. Usamos lições cem vezes já recitadas, apenas copiamos o que outras pessoas já disseram. Nos trancamos em nossas prisões domiciliares gradiadas e dizemos que estamos a salvo mais um dia.Então eu pergundo: o toca o coração? O que tem saído da nossa alma?

Precisamos fazer transcender do nosso interior todo o potencial e viver esse potencial, para tocar o coração das pessoas precisamos usar como instrumento o nosso coração. Faço uma apelo que nós, enquanto seres viventes, possamos transceder esse cristalização de nossa sociedade para viver um novo mundo onde pessoas usem mais o amor e menos o egocentrismo.

SDG